Clara Rowland — PSSSST, a história (pequena assombração infantil)
No recreio, o Miguel aproxima-se dos amigos com um envelope branco na mão:
— Pssst. Sabem o que é que eu tenho aqui? É o meu amigo Dufão. Peludo, abelhudo, risonho, medonho, mas querido e glutão. Não sei se espera ou se vai crescer — sei que mora aqui dentro e não se quer mexer.
— Mostra!, dizem os meninos.
— Ah, não, que ele é muito glutão.
O Miguel vai ter com mais um amigo. Os outros vão atrás:
- Pssst. Sabes o que é que eu tenho aqui? É o meu amigo Rufino. Fofo, cafofo, gatinho e gatão. Matulão mas franzino, gigante e anão. Não sei se dorme ou se quer acordar — sei que mora aqui dentro e não sabe ressonar.
- Mostra!, dizem os meninos.
- Ah, não, que ele é muito matulão.
O Miguel vai ter com mais um grupo de meninos. Os outros vão atrás:
— Pssst. Sabem o que eu tenho aqui? É o meu amigo Tritão — todo impante, elegante, um tanto resmungão. Torto, retorto, miúdo e zangão. Não sei se é mudo ou se quer rugir — mas mora cá dentro e não quer sair.
— Mostra!, gritam agora os meninos.
— Ah, não, que ele é mesmo resmungão.
O Miguel vai ter com outros meninos ao fundo do recreio. O grupo segue-o à distância:
— Pssst. Sabem o que é que eu tenho aqui? É o meu amigo Cachoco. Desvairado, destravado, dorminhoco e muito louco. Não sei se rosna ou se vai ronronar — só sei que está cá dentro sem nunca assobiar.
— Mostra! — dizem os meninos.
— Ah, não, que ele é muito refilão.
— Será? — dizem os meninos todos que, entretanto, se juntaram. Ficam parados, pensativos, a olhar para o Miguel.
O Miguel afasta-se, esconde-se atrás de uma árvore no fundo do recreio, entreabre o envelope, espreita lá para dentro e sorri.
* * *
À noite, em casa, o Miguel está a dormir, com o envelope à beira da cama. Os seus três gatos olham para ele. O gato preto mais pequeno aproxima-se do envelope, abre-o com a pata e espreita.
Assusta-se!
Corre para junto dos outros dois gatos.
Um bicharoco sai do envelope — é peludo e felpudo! —, sorri, e tem outro envelope — também branco, mais pequeno — na mão. Aproxima-se do trio de gatos e diz:
– Pssst! Sabem o que é que eu tenho aqui?
FIM