Ricardo Tiago Moura — (reflexo)

não, eu não sou um fantasma

Nuno Prata

temo o tangível

aquilo que toca

campainha real

tal possibilidade 

encontro concreto

com o impossível

porém só em casa

comigo me assusto

 

troco planos se

não é o toque     

o turvo lençol

sujo e limpo

que me tolhe

não a mortalha

mero espelho oh

sim a luz que vem

 

tremo a imagem

como nunca vi

nem em corpo

a gastar o medo

no breve armário

magro de pavor

receio a sombra

sofro o seu alcance

 

talvez seja eu

o meu outro

tassalho etéreo

brilhante à vista

à cama tombado

o mais verdadeiro

aquele que não é

mas continua e está            

 

tomo o quarto

inteiro de frente

meu próprio vulto

inventando mácula

num vagar de mão

todo o pensamento

como quem pergunta

que pode a memória

 

tropeço devagar

não sei em quê

o passo a nódoa

da noite seguinte

rara espécime

partida em mil

reflectes e vibras

ainda sou e reflicto

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